Um quadro negro, uma televisão laranja, uma mesa, carteiras e estudantes. Não fosse a grade dividindo a professora dos alunos, a sala do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA) Novos Horizontes seria idêntica a uma sala de aula das escolas estaduais paranaenses.

O Centro funciona desde setembro dentro da Penitenciária Estadual de Francisco Beltrão e serve como um dos pilares do projeto Mãos Amigas pela Paz, iniciativa do governo do estado para a resocialização de internos do sistema carcerário do Paraná. 

Dentro do presídio, os internos podem ser alfabetizados e cursar disciplinas das primeiras séries do Ensino Básico até o Ensino Médio. “Pelo programa Paraná Alfabetizado os próprios detentos ensinam uns aos outros a ler e escrever, com a supervisão de uma professora”, explica Nair Salmoria dos Santos, diretora do CEEBJA.
A maioria dos alunos cursa de duas a três disciplinas das quatro a que teriam direito. A limitação, segundo a diretora, se dá por conta das coincidências de horário entre as disciplinas.

Ingresso
Para estudar dentro da penitenciária o interno precisa passar por um processo semelhante ao da seleção para as atividades de trabalho. Um Conselho formado por profissionais de várias áreas atesta se o candidato atende aos pré-requisitos exigidos para frequentar as aulas.
Segundo a diretora, a procura pelas vagas é grande. “Tenho duas turmas cheias, só estamos esperando que os professores que passaram no teste seletivo assumam suas funções”, continuou.

Quanto ao desempenho, Nair explica que alguns alunos aprendem com maior facilidade do que outros, assim como nas salas de aula convencionais.
Também como nas outras escolas, os alunos do CEEBJA Novos Horizontes também participam do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e de outros testes de suplência e certificação, aplicados na própria entidade.

Nair conta que a equipe do Centro almeja conseguir ofertar aulas à noite, pois muitos operários da fábrica desistem das aulas e optam pelo trabalho para ajudar a família. Também há projetos de ofertar videoconferências para que as aulas possam chegar até dentro das celas.

Perfil
Muitos dos internos que chegam a Penitenciária de Francisco Beltrão mal concluíram o Ensino Fundamental. Alguns também são carentes de praticamente tudo, não só de educação, conta a diretora. “Nós usamos figuras nas aulas de alfabetização para que o aluno relacione as imagens com palavras. Conheci um interno que nunca tinha visto um bolo, pois havia morado na rua a vida toda. Alguns nunca conheceram os pais e nunca tiveram o mínimo de estrutura familiar”, detalha.

Apesar de a vulnerabilidade social não ser determinante para entrada no mundo do crime, Nair acredita que a fragilidade social de alguns é tão grande que não haveria outro caminho em suas vidas a não ser o da criminalidade.

Como professora, no entanto, Nair acredita que a educação é uma forma de recuperar os internos e reinseri-los na sociedade. “Podemos pendurar a chuteira se nós, como professores, não acreditássemos nesse trabalho”, disse.
Para o diretor da penitenciária, Joabe Barbosa, a educação também é uma das ações que ajudam a combater a criminalidade. “Quanto mais alto o grau de estudo, menor o índice de criminalidade”, analisa.

 

 

Fonte: diariodosudoeste.com