No início do século XX, Orson Welles provou ao mundo - sem querer - o poder das ondas de rádio. Ao reproduzir ao vivo a obra de ficção Guerra dos Mundos, obra de H.G Wells, que narra a invasão da Terra por marcianos, o radialista causou pânico em muitos ouvintes que, desavisados, acreditaram que aquilo estava mesmo acontecendo.
Hoje esse cenário é quase impossível diante de uma geração conectada pela internet, que não depende só de um meio para se informar. Mas na época a reação foi plausível para uma sociedade que tinha o rádio como principal fonte de informação.

Laudi Vedana sabe que o rádio não é mais o mesmo. O professor, radialista, jornalista e empresário da comunicação passou 50 dos seus 70 anos de idade trabalhando dentro de emissoras de rádio, o que lhe dá muita propriedade para falar sobre o assunto.

Hoje a integração das mídias fez com que o rádio se transformasse, exigindo dos locutores muito mais repertório para convencer um público cada vez mais intelectualizado e exigente. Empreendedor, Laudi não parou no tempo e soube aproveitar todos os momentos da evolução da transmissão radiofônica para aprimorar o seu trabalho.

Das rádios AM, onde começou sua carreira ainda no Rio Grande do Sul, Laudi migrou para o formato FM quando adquiriu sua própria emissora, a Elite FM, que dirige há quase 30 anos. Depois veio a internet, e mais recentemente as redes sociais, mídias que Laudi encara como uma importante ferramenta de interação com seus ouvintes.

Na prática, o professor de formação aprendeu a mais importante lição do jornalismo, questionar-se sobre o que - a seu modo - chama de as coisas mais construtivas para seus ouvintes. “Não gosto de dar notícias apenas pelo seu valor de repercussão, como acidentes ou até mesmo intrigas particulares que geraram brigas. Acho que tenho uma função de estimular o que é positivo”, resumiu.

A lição virou lema de sua rádio: energia positiva no ar. O Diário do Sudoeste conversou com Laudi Vedana no mês em que ele completará 50 anos de vida no rádio.


Diário do Sudoeste - Como começou sua história no rádio?
Laudi Vedana - O rádio foi minha primeira atividade, comecei em 1963. Eu estava em Marau, Rio Grande do Sul e atuava como redator de notícias e reportagens na rádio Alvorada. Foi fácil, porque eu já tinha segundo grau completo e a língua portuguesa já era o meu forte.
Um mês depois, em março, eu fiz teste de locução, e então passei a acumular a função de redator e locutor. Naquele tempo o rádio era absoluto, pois não havia televisão, então ele era a principal fonte de informação.
Em Marau, trabalhei de 1963 a 1967. Nesse meio tempo tive que me mudar para outra cidade por conta da carreira de professor, mas não consegui me adaptar. Pouco depois voltei pra Marau trabalhar na rádio, mesmo ganhando três vezes menos do que como professor.

E como você veio para Pato Branco?
Vim pra cá em 1966, graças ao intermédio de uma amiga que hoje é minha esposa. Ela estudava lá e mudou-se para cá com a família.
O frei Nelson (Rabelo) disse a ela, que na época lecionava no Colégio Agostinho Pereira, que precisava de um locutor para a rádio Celinauta.
Ela me indicou, eu vim para cá em dezembro de 1966 e em janeiro de 1967 eu estava trabalhando na rádio. Fiquei 15 anos na Celinauta trabalhando em várias funções, de locutor a vendedor, e sempre exercendo a função de professor também.

Onde o senhor lecionou?
Trabalhei no Colégio Agostinho Pereira. Sou formado em Letras Português e filosofia, mas trabalhei mais como professor de português. Atuei na antiga Funesp também (hoje UTFPR).

Depois da Celinauta você já foi para a rádio FM?
Não. Surgiu uma oportunidade de abrir uma nova rádio, mas ainda AM.
Havia duas emissoras em Pato Branco: a rádio Celinauta e a Rádio Pato Branco. Na época, dois empresários me procuraram para saber se seria viável a criação de uma terceira rádio na cidade. Decidimos arriscar.
Eu entrei com o pedido para a concessão e em 60 dias o canal de AM estava liberado. Depois foi mais difícil. O problema é que a política era bem complicada naquela época, e os dois empresários eram da base de oposição, e apesar de eu ter praticamente 95% da rádio, acharam que a nova emissora teria uma postura oposicionista.
Não havia interesse político, mas, sim, um interesse, sobretudo, meu. Quando houve a concorrência para a concessão, parece-me que o então deputado Alceni Guerra teria convidado o frei Policarpo para iniciar um empreendimento parecido, e ele venceu a concorrência.
Bom, todos sabiam que em Pato Branco estava para sair uma nova rádio pelo intermédio do Laudi Vedana. Quando saiu para o Alceni, com o nome de Ampla Comunicação, o grupo político local se mobilizou. Disso tudo surgiu uma sociedade entre mim, o Fernando Guerra e o João Ambrósio, que deu origem a rádio Itapuã. Fiquei cinco anos na direção da Itapuã. 

Como era trabalhar na rádio nos anos 60? O que mudou de lá pra cá?
Eu vivi duas fases do rádio. A primeira, onde a tecnologia era precária, mas o rádio dominava, ele era fundamental para toda a comunicação. Aqui na região temos um exemplo disso, que foi a mobilização de 1967 (conhecida como Revolta dos Posseiros), praticamente articulada pelo rádio.
Os equipamentos eram simplesmente o transmissor, a antena, praticamente tudo era ao vivo, os gravadores eram enormes, não tinham mobilidade, sem falar que o telefone era precário também. Por outro lado, a repercussão era enorme, tudo o que você falava repercutia.
Depois veio a televisão e todos achavam que o rádio seria sufocado, mas isso não aconteceu. Então veio o FM, que foi um divisor de águas para o rádio, porque ele supria uma lacuna muito grande que era a qualidade de som. E, ao contrário do que muitos pensam, o FM não é só pra tocar músicas; hoje existe todo o tipo de programação nas rádios FM.

Além de informar o rádio também serve como uma espécie de companhia para os ouvintes. O senhor poderia falar sobre essa relação de proximidade?

O rádio efetivamente é uma companhia. E as emissoras que levam isso em consideração são as que têm maior audiência. A força do rádio é o locutor, pois a tecnologia e as músicas são as mesmas para todos. O diferencial é o comunicador, que não precisa mais ser aquele que tem o vozeirão como antigamente; o que vale é ter boa comunicação, e isso não se resume a dizer o nome das músicas e a hora certa.
O bom comunicador precisa ter bagagem cultural para conseguir informar e comentar todo tipo de assunto. Eu sempre reforcei isso para quem está no microfone, pois se eles forem bons eles terão audiência.

As pessoas ainda se identificam com a figura do locutor? Como é essa relação hoje?
  
Antigamente, os locutores de rádio eram verdadeiros ídolos para muita gente (risos). Hoje isso não acontece tanto. Mas quando comecei, as pessoas iam até a rádio, queriam conhecer o locutor, levavam presentes, até porquinho já vi darem de presente (risos).
Isso era uma forma de reconhecer o nosso trabalho, pois o rádio também prestava serviço àquelas pessoas. Havia as chamadas dedicatórias em datas especiais, músicas oferecidas em aniversários. Não era raro quando pessoas do interior solicitavam avisos e pediam que o radialista anunciasse em determinado horário, porque ela estaria em casa para ouvir. Coisas simples, mas que comprovam a importância do rádio para aquela época.

Hoje a interação acontece via internet...
Sim, principalmente pelas redes sociais. Os ouvintes participam muito nas redes sociais. O que acontecia antes pessoalmente, hoje acontece pela internet.

E como surgiu a Elite FM?
A rádio Elite já existia quando eu estava na Itapuã, ela foi a primeira rádio FM do Sudoeste entrando no ar em 1980. Inicialmente era de um grupo de empresários de Pato Branco, depois passou a fazer parte do grupo Barriga Verde de Comunicação, que fazia parte do grupo Perdigão.
Por motivos econômicos, a Perdigão deixou de trabalhar com comunicação, e a rádio foi assumida pelo Agostinho Seleski, de Francisco Beltrão.
Em 1986 eu vendi minha parte da Itapuã para comprar a Elite, que estava à venda. Só que naquele tempo aquilo era um negócio arriscado, porque a inflação podia variar até 60% ao mês. Fui chamado de louco (risos), pois eu ia assumir uma dívida que aumentava todo mês.
Meti a cara mesmo assim e felizmente consegui pagar tudo com um ano e meio de antecedência. De lá pra cá, nós passamos por muitas mudanças, aumentamos a potência, tivemos ganho de antena. Meu objetivo era cobrir bem a microrregião de Pato Branco, que é o que nós conseguimos fazer hoje. 


Como você acha que será o futuro do rádio?
Pesquisas feitas recentemente mostraram que a credibilidade do rádio cresce mais do que a da televisão e de outros meios de comunicação. O rádio já passou por várias etapas e sempre se manteve.
Acredito que a nova fase será a era do rádio digital, apesar deste ainda ser um processo que está evoluindo lentamente. Com ela, haverá muitas possibilidades, como uma mesma rádio ter vários canais com programações diferentes. Será mais uma fase de adaptação, mas o rádio vai continuar existindo pela sua história e pelo seu significado.


Qual é a sensação de estar no estúdio falando pra centenas de pessoas?
Sensação de responsabilidade, pois aquilo que você diz produz um efeito no ouvinte. Por isso eu sempre me pautei pelo otimismo, eu nunca fui adepto de noticiar coisas tristes, mortes, acidentes, aquela notícia que me parece demagógica, como se o fato por si só fosse suficiente para ser noticiado. Eu sempre me pergunto se aquilo que eu estou noticiando é produtivo para o meu ouvinte. Produz efeitos bons? Uma briga de família é interessante para o meu ouvinte? Temos que ter consciência da nossa função, pois nós também somos responsáveis por criar uma imagem da nossa cidade, da nossa sociedade. Uma notícia ruim causa um impacto negativo para quem é daqui e para quem é de fora.
Então vamos noticiar o que é positivo, pois notícia ruim se divulga por si só (risos).