A caminhada pelo bi da Copa Libertadores começará no ponto mais alto da história do Corinthians, literalmente. Às 22h desta quarta, o time alvinegro jogará contra o San Jose e a maior altitude de sua história, os 3.706 metros de Oruro, no oeste boliviano.

De acordo com o fisiologista Turíbio Leite, os efeitos da altitude podem ser sentidos sempre que se atua em localidade que ficam a mais de 2 mil metros acima do nível do mar. Dessa marca em diante, o prejuízo é exponencial. “Significa dizer que essa relação não é proporcional. Não é que se você subir 500 metros de 2 mil para 2,5 mil é a mesma coisa que de 2,5 mil pra 3 mil. Os mesmos 500 metros a mais são muito piores em altitudes mais elevadas”, explica o especialista.

Em sua história na Libertadores, o Corinthians jogou dez vezes nestas condições. O ponto mais alto enfrentado pelo clube, no entanto, foi La Paz, na Copa Libertadores de 2003. Na ocasião, a equipe alvinegra saiu-se bem a 3.640 metros de altura e bateu o The Strongest por 2 a 0. Desta vez, no entanto, o desafio será maior.

“Eu estive lá com o São Paulo uma vez, em 1992, exatamente contra o San Jose. Realmente o efeito é muito intenso. A ordem [crescente] de dificuldade é La Paz, Oruro e Potosi [todas na Bolívia, esta última com mais de 4 mil metros de altitude]. Em jogos de Libertadores são as mais altas. Depois tem Cuzco e Quito [no Peru], que são na faixa de 3 mil metros”, explica Turíbio.

Seria “apenas” o desafio mais alto da história corintiana na Libertadores, mas não é. Jornalista e escritor especialmente dedicado ao Corinthians, Celso Unzelte explica que o clube nunca jogou em um ponto tão alto. “Antes da Libertadores tinham mais amistosos, mas mesmo nesses jogos, o máximo era Quito, até para não desgastar. Pode cravar, essa é a maior altitude da história do Corinthians”, disse ele, autor do “Almanaque do Timão”, que reúne ficha de todas as partidas da história alvinegra.

É diante deste desafio que estão Tite e seus comandados. A comissão técnica se preparou para o desafio medindo a saturação de oxigênio de cada um dos jogadores do elenco. A ideia é entender quem pode sofrer mais com a altitude e trabalhar com essas informações na hora do jogo.

“Você usa um oxímetro de dedo para medir a saturação de oxigênio. Ela normalmente gira em torno de 95%. Quanto menor a saturação, mais dificuldade ele vai ter com a altitude. Aí vamos poder prever que atleta vai reagir melhor”, disse o preparador físico Fábio Mahseredjian.

Ciente dos possíveis apuros, o Corinthians decidiu ir a Oruro só quatro horas antes do jogo. Os especialistas entendem que os efeitos são sentido apenas horas depois da chegada no local, e por isso a equipe conseguiria atuar antes de sofrer com o ar rarefeito. Caso a estratégia falhe, cilindros de oxigênio estarão à disposição do time alvinegro antes, durante e depois do jogo.

Uma vitória encerraria a sequência de três empates que a equipe arrasta no Campeonato Paulista. Depois do 2 a 2 suado com o Palmeiras no último domingo, a defesa passou a ser questionada e o time gerou o primeiro sinal de alerta na temporada. Além de restaurar a confiança, o triunfo ainda aumentaria a invencibilidade corintiana.