A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) visitou na tarde de ontem a propriedade de Ervino Antunes Maciel, 78 anos, que fica na Linha Luiz Costa Gramadinho, interior de Itapejara D´Oeste. Dois técnicos da entidade vieram do Rio de Janeiro para colher algumas amostras do solo e da água da propriedade para avaliar se é possível explorar o potencial energético existente no local. No final do ano passado, um laudo técnico da A3Q Análises, laboratório de Cascavel, apontou a existência de 4.912,129 microgramas de hidrocarbonetos totais de petróleo em cada litro de água que a família estava consumindo.

"Agora que eu parei de tomar essa água com petróleo, melhorei bastante. Eu tinha dores no corpo, feridas na cara e meus olhos ardiam bastante. A gente tomou e se lavou com essa água durante muitos anos", comenta Ervino, que mora na propriedade há 24 anos. Ele chegou a fazer tratamento com cinco tipos de especialistas, para cuidar do rim, bexiga, cataratas, coração e câncer de pele. "Isso tudo é resultado de tomar essa água contaminada, minhas filhas também estavam tendo dificuldades", complementa.

Agora Ervino está recebendo ajuda dos vizinhos, que cedem água potável de qualidade. Para tomar banho, ele coloca baldes em frente à casa para coletar a água da chuva. O produtor vendeu toda a sua criação de gado e tirou os peixes de seu açude. Segundo ele, os animais também estavam sofrendo com a água contaminada.

Neusa Maciel, uma das filhas de Ervino, está levando a sua filha de oito anos para fazer um tratamento de intestino em Pato Branco. "Nós não podemos mais ficar de braços cruzados. Tem uma família aqui sendo prejudicada por essa contaminação. A gente quer que tenha urgência na realização desses exames. Temos que ter uma definição para saber o que podemos fazer", afirma.

Processo demorado

Explorar petróleo em uma propriedade não é tão simples como parece. Trata-se de um processo demorado, que pode levar anos até que haja a exploração — se houver potencial de comercialização, é claro. Lúcia Gaudêncio, coordenadora de atividade de meio ambiente na ANP, diz que ainda é prematuro afirmar se haverá comercialização de petróleo ou não. "A gente vê que há indícios de petróleo por causa da cor escura do solo e também da característica oleosa da água. Mas ainda é cedo afirmar que haverá exploração no local. Nós vamos fazer os testes de hidrocarboneto para saber qual será o próximo passo", informa.

Segundo Lúcia, há uma legislação que trata de áreas com risco exploratório. Se realmente for comprovado o potencial energético na propriedade, o que ainda deve demorar alguns dias, a ANP delimita algumas áreas a serem exploradas e leiloa para que empresas como a Petrobrás possam arrematar. A partir daí, quem compra o terreno em comodato entra num acordo com os proprietários e faz a indenização. "Mas pode acontecer de a empresa comprar o terreno, fazer a perfuração e não conseguir comercializar. É um risco que eles correm e isso está tudo no contrato", acrescenta Lúcia.

A produção só começa se houver sucesso na exploração. Aí sim o produtor rural, neste caso o seu Ervino, passa a receber 1% de todo o petróleo comercializado. "Só que a gente não tem como fazer uma previsão de quanto isso demora. Pode ser que seja algo para alguns anos. Até lá, amparar essa família pode ser um dever do município ou do Estado, pois há uma impossibilidade no consumo de água local", declara Lúcia.

Kerick Robery Leite de Souza, outro técnico da ANP que veio para Itapejara D´Oeste, diz que a amostra será levada para um laboratório no Rio de Janeiro. "Visualmente, não há como saber se existe petróleo debaixo deste terreno ou não. Mas vamos fazer os testes o quanto antes para saber uma análise mais profunda", diz. 

Algo natural

Quando Ervino começou a falar sobre a existência de petróleo em sua propriedade, muitos o chamaram de louco. "Algumas pessoas falavam que eu tinha enterrado um trator e que estava vazando óleo diesel no terreno. Mas eu nunca fiz isso, sempre trabalhei para ter o que tenho hoje. Só que não posso mais continuar nesta situação, preciso de ajuda", garante.

Para Lúcia Gaudêncio, a chance de ter sido uma contaminação provocada pelo homem é muito pequena. "Acredito que seja algo natural, não que alguém jogou gasolina para contaminar o solo. Mas não podemos criar uma grande expectativa em relação a alguma informação que ainda não temos certeza."

Há oito anos, quando Ervino solicitou algumas máquinas da prefeitura para escavar um segundo poço na propriedade, desconfiou que pudesse ser petróleo. "Eles começaram a escavar e se depararam com uma laje no fundo. Ao romper aquela rocha, apareceu uma massa preta, que não era lama e nem terra. Eu peguei e percebi que tinha um cheiro muito forte. A partir daí comecei a procurar ajuda, mas fiquei um pouco decepcionado, pois eu acredito nas pessoas, mas alguns preferem atrapalhar do que trazer solução", afirma.