Um homem morreu na manhã de hoje (05) enquanto aguardava para retirar uma ficha para atendimento médico no Posto de Saúde do Núcleo Habitacional Recanto Feliz, em Guarapuava. Antonio Pereira dos Santos estava na fila desde às 03h00 de hoje. Ele passou mal e morreu às 07h00.

De acordo com outras pessoas que estavam na fila, Antonio estava conversando normalmente, mas se queixava de dor nas costas e no peito.

Conforme a esposa de Antonio, ele teria tentado pegar ficha para atendimento cinco vezes nos últimos dias, mas não conseguiu em nenhuma tentativa. “Sempre que chegava a vez dele já não tinha mais ficha. Hoje ele foi mais cedo pra ver se conseguia”, diz a mulher, que está em estado de choque.

Antonio e a esposa são naturais de Boa Ventura de São Roque e residem há poucos meses em Guarapuava. Transtornada pela situação da morte do marido, a mulher reclama do mal atendimento no setor de Saúde em Guarapuava. “Em Boa Ventura nós nunca tivemos problemas. Aqui a situação é muito ruim, porque não conseguimos ser atendidos. Espero que outras pessoas não passem pela dor que estou passando”, desabafa.

O corpo de Antonio Pereira dos Santos foi encaminhado ao IML de Guarapuava.

Idoso procurava atendimento há dois meses

“Meu marido estava ali estendido no chão feito um cachorro abandonado. Não tiverem nem o respeito de colocar um pano em cima dele. Foi a polícia que pôs o cobertor que a minha neta foi enrolada na madrugada junto com ele pra não passar frio. Que saúde é essa de Guarapuava?” A revolta é de dona Leonor Aparecida da Luz dos Santos ao encontrar seu esposo Antonio Pereira dos Santos, 92 anos, caído, já morto, em frente a porta do Posto de Saúde do Recanto Feliz na manhã desta quarta-feira (05). Antonio saiu pelo quinto dia consecutivo antes das três horas da madrugada para ir ficar na fila do posto em mais uma tentativa de conseguir ficha para consultar. Hipertenso, ele estava há dois meses sem remédio e de nada adiantaram as idas e vindas até a unidade. O senhor morreu com a cartela vazia de remédio nas mãos. “Desde que a gente se mudou para cá há dois meses ele estava sem remédio. Todo dia ia até o postinho e voltava sem nada porque não tinha a carteirinha. Ele levava o talão de água para comprovar que moramos aqui, mas nunca conseguiu o remédio e agora morre em frente ao posto que já estava aberto e ninguém fez nada”, reclama dona Leonor inconformada.

Quatro pessoas que chegaram ao posto às 5 horas da manhã para também tentar uma ficha disseram que o idoso reclamava de dores nas costas e no peito. “Ele contava que estava há dois meses tentando ser atendido e que não conseguia. Eram 7 horas quando o posto abriu, mas não tinha médico. Aí ele começou a passar mal e nós tentamos acudir, mas não deu tempo”, conta Sirlene Batista. “Não veio ninguém lá de dentro acudir. Começaram a correr de um lado para o outro e não fizeram nada”, relata outra senhora que não quis se identificar. “A saúde do nosso município está um caos, nós estamos abandonados. Não tem médico, não  tem remédio e somos mal atendidos. Pagamos impostos pra que?” pergunta outra senhora.

Um dos momentos mais tristes foi o encontro do filho deficiente com o pai caído no chão. O jovem se agarrou ao corpo do homem e não queria soltá-lo. Aos gritos o filho tentava contar que o pai tinha levado apenas uma garrafa com água para beber e suportar a dor que vinha sentindo. A neta de 11 anos que o acompanhou em busca de socorro disse que enrolou o avô num cobertor e voltou para casa. “Ele mandou dizer para minha avó que já voltaria para casa e agora nunca mais vai voltar”, disse a menina em prantos.