A poucas horas da tão sonhada festa de formatura, após um investimento de R$ 3 milhões que foi sendo feito ao longo dos últimos seis anos de curso, alunos de Medicina da faculdade Unicesumar, em Maringá (PR), acabaram frustrados após descobrirem, na manhã deste sábado (21), que o evento não aconteceria. A informação chegou através de uma nota da empresa Brave Brazil, responsável pela execução de todas as etapas da celebração da graduação, que, a 12 horas da festa, teria afirmado que a comissão estava devendo R$ 530 mil em pagamentos. Os estudantes negam qualquer tipo de débito e afirmam, inclusive, que havia um excedente de R$ 121 mil para gastos extras; eles acreditam que houve má fé por parte da organizadora, que teria administrado o valor recebido de forma irresponsável.
A situação causou um tumulto no local onde aconteceria a festa. Alunos e parentes se revoltaram contra um homem que se identificava como diretor da Brave Brazil e disparam ofensas contra ele. A Polícia Militar precisou ser acionada para acalmar os ânimos. Imagens mostram que o local sequer estava arrumado, e mesas e cadeiras não estavam postas. O caso acontece dias depois de vir à tona, em São Paulo, um golpe milionário aplicado pela estudante Alicia Dudy Muller, de 25 anos, também contra formandos de Medicina da USP, que acabaram ficando sem o baile.
Prefeito aciona Procom
A relação entre comissão de formatura e empresa se tornaria insustentável, no entanto, no sábado, quando chegou a notícia, em meio de nota, de que a festa principal, mais aguardada por todos, não aconteceria. A confusão foi tamanha que até o prefeito de Maringá, Ulisses Maia, resolveu se pronunciar:
"Lamentável o ocorrido com formandos de medicina da Unicesumar que tiveram o baile de formatura cancelado. Estamos, junto ao Procon Maringá, à disposição para auxiliar as famílias afetadas. Teremos reunião segunda-feira (23) para tratar possíveis soluções. Contem conosco", escreveu o chefe do Executivo municipal.
'Empresa descumpriu reiteradamente com suas obrigações', diz comissão de formandos
A turma "T7", lesada, escreveu uma nota aberta, onde dá sua versão e esclarece cada um dos pontos que culminaram no cancelamento da festa e, também, no silêncio dos responsáveis pela empresa. O comunicado afirma que funcionários da Brave Brazil teriam informado, através das redes sociais, que estariam sem receber salários há 2 meses. Os alunos afirmam que há uma série de reclamações semelhantes contra a organizadora de eventos.
"Inicialmente, é necessário apontar que os formandos, após votação e em comum acordo, contrataram a empresa Brave Brazil para a execução de todos os eventos referentes a formatura, mediante a administração dos valores pagos pelos formandos e a contratação de todos os fornecedores para a realização dos eventos. No entanto, a empresa descumpriu reiteradamente com suas obrigações próximo a realização dos eventos", introduz a comissão.
Os formandos revelaram que a Brave Brazil afirmou que contatos feitos pela comissão diretamente com os produtores de artistas previstos como atrações para a festa teriam feito com que valores fossem reajustados e que pré-contratos fossem alterados. Os alunos afirmam que sondaram esses profissionais sobre datas de shows em Maringá justamente porque já estavam desconfiados da atuação da empresa.
"A comissão recebeu informações, até mesmo, por parte de funcionários da própria empresa, que por meio de redes sociais informaram que não estavam recebendo seus salários há mais de 2 meses. Vale ainda frisar que, assim que tomou conhecimento desses fatos, a comissão, imediatamente, entrou em contato por diversas vezes com a empresa, por vários meios, como grupos e ligações, não tendo nenhuma resposta por parte da Brave, que se manteve omissa. Com isso, intervimos no sentido apenas de perguntar aos produtores se os shows estavam sendo pagos e se havia data em Maringá, sem perguntar ou explanar qualquer outro tipo de informação, até mesmo porque quanto a execução dos demais serviços do evento, que eram de responsabilidade da Brave, a comissão não tinha informações", diz a comissão. "A empresa Brave alega que após nosso contato, os fornecedores modificaram pagamentos ou contratos pré-estabelecidos. Porém, alguns contratos nem existiam e os que existiam não estavam sendo cumpridos".
“Má administração do valor arrecadado”
Os alunos também falaram sobre a suposta dívida de mais de meio milhão alegada pela empresa, o que teria feito com que a festa fosse cancelada.
"Quanto ao suposto déficit de R$530 mil citado pela empresa, ressalta-se que ele não tem qualquer fundamento fático. A Comissão apontou para a empresa diversos furos constados na planilha financeira: valor cobrado pela empresa maior que os 10% do contrato, bitributação por parte da empresa, mensalidade dos formandos menor do que o valor realmente pago etc. Ao que tudo indica, trata-se de uma tentativa da empresa para justificar a má administração do valor arrecadado", afirma a comissão.
"Segundo o plano financeiro, seria destinado para o pagamento das atrações um valor entre R$ 330 mil a R$ 350 mil reais. Ao fazer um upgrade das atrações, os gastos passariam para R$ 600 mil reais, gerando um déficit de 350 mil reais, o que foi facilmente pago com as vendas de convites extras, que totalizaram R$ 726.625 mil reais. Com o aumento proporcional de pessoas no evento – bebida, comida, espaço, logística – ainda sobrariam R$ 121.329 mil reais para gastos extras" acrescenta.
Alunos vão à Justiça
A comissão afirmou ainda que jamais concordou em adiar a festa por qualquer motivo, e que os pagamentos foram feitos integralmente.
"Na véspera da realização do evento, após muita insistência da comissão e diversas tentativas frustradas, a empresa respondeu aos contatos e ofereceu opções para a realização do evento que envolviam aporte financeiro. Nós, como contratantes, cumprimos nossa parte, com pagamento das mensalidades e arrecadamento total de R$ 2.930.859,51; valor suficiente para execução do projeto sem aporte financeiro. Vale ainda ressaltar que em momento algum existiu concordância quanto adiamento do evento, sendo sempre exigido que o mesmo fosse cumprido integralmente, com todos os itens contratados, o que não se deu exclusivamente por culpa da empresa contratada".
Por fim, os alunos ressaltam que irão à Justiça em busca de reparações e responsabilização cível e criminal contra a empresa.
"Os seus integrantes tratam-se de alunos que não são profissionais do ramo de eventos e que não possuem nem mesmo verba para assistência jurídica e os mesmos se dispuseram com tempo e dedicação pautados pela boa fé e que são vítimas tanto quanto os demais formandos. Apesar disto, não estão inertes, e já foram tomadas todas as medidas cabíveis nos âmbitos criminal e cível e que os danos, individuais, serão apurados e cada formando poderá pleiteá-los de forma autônoma ou conjunta", conclui a nota.
(Fonte: O Globo - Foto: Reprodução)