O espaço que deveria ser a garagem da Câmara Municipal de Flor da Serra do Sul é um dos locais onde hoje funciona, de forma improvisada, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) do município, que está prestes a se mudar para um imóvel adaptado para as necessidades de seus 42 alunos. O novo espaço é uma das 14 Escolas de Educação Especial que estão sendo construídas em todo o Paraná, em uma iniciativa inédita do Governo do Estado.

O investimento na nova estrutura é de R$ 1,8 milhão, com repasse direto da Secretaria de Estado das Cidades ao município, que foi responsável pela execução do projeto e das obras. ?É um sonho de toda a nossa comunidade e das pessoas que trabalharam em prol da APAE desde o início da escola no nosso município, que agora sai do papel graças a essa parceria com o Governo do Estado?, afirma o prefeito de Flor da Serra do Sul, Valmor Felipe Junior.

Fundada em 2007, a APAE Flor da Vida contou com a dedicação dos seus funcionários e da comunidade para conseguir atender os alunos, que atualmente têm de 2 a 76 anos de idade e diferentes graus de deficiência intelectual, física ou motora. Nos primeiros anos, eles se deslocavam para a cidade vizinha de Marmeleiro ou até mesmo a Francisco Beltrão, a cerca de 45 quilômetros de distância, para os atendimentos.

Depois, a entidade passou a funcionar no porão de uma casa emprestada na cidade catarinense de Palma Sola, que faz divisa com Flor da Serra do Sul. Agora, ela se divide entre dois lugares: a garagem da Câmara e um outro imóvel a duas quadras de distância, que pela particularidade das duas cidades, cujas divisas são as próprias ruas, também fica em Palma Sola.

A distância e o improviso das atuais dependências acabam gerando dificuldades para funcionários e alunos. Enquanto as aulas acontecem na Câmara, que não tem salas de aula ou mesmo sanitários adaptados, os atendimentos especializados e mesmo as refeições são feitos no outro imóvel. E os alunos com deficiência, muitos deles cadeirantes, precisam ser deslocados pela rua.

?É preciso andar quase duas quadras para fazer o lanche e os atendimentos, o que é uma grande dificuldade no inverno ou em dias de frio ou chuva, principalmente com os cadeirantes?, conta a diretora da Apae, Elisabete Caron.

?É um sofrimento para os funcionários que prestam esse trabalho, e também para os estudantes, porque é um local que não tem espaço nem equipamentos adequados, é muito complicado?, destaca o presidente da entidade, Sinval Thives Pimentel. ?Essa mudança vai ser como o céu para as nossas crianças, que estarão em um espaço totalmente adaptado para as suas necessidades, onde os profissionais também vão ter um lugar adequado para trabalhar?.

ESPAÇO ADEQUADO ? Essas dificuldades estão próximas do fim com a construção da nova escola, localizada em um terreno de 5 mil metros quadrados adquirido pela própria entidade. Com 95% de execução, a unidade vai contar com seis salas de aula, cozinha, refeitório e salas destinadas para a secretaria, direção, sala de professores, biblioteca e para os atendimentos de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e psicologia.

No local, também serão ofertadas atividades de equoterapia para os estudantes. ?Adquirimos uma área grande já pensando na expansão futura. Vai ter um espaço no fundo do terreno para a equoterapia e planejamos, futuramente, a construção de quadra de esporte e piscina. Com apoio do município, Governo do Estado e governo federal, queremos ampliar a estrutura para o bem-estar das nossas crianças. São eles os atores que mais merecem toda essa atenção e carinho?, ressalta Pimentel.

?Teremos duas alas, uma voltada para a parte pedagógica, com as salas de aula, da diretoria e dos professores, e outra voltada para os atendimentos especializados?, destaca Elisabete. ?Vamos ter espaço para fazer muita coisa, é um sonho que está sendo realizado para trazer qualidade de vida aos nossos alunos?.

Para as mães e pais dos alunos, o novo espaço representa um cuidado ainda maior do que eles recebem no dia a dia. ?Eu fico muito contente pela minha filha, pelos outros alunos e pelos funcionários, porque vai ter um lugar mais acertadinho para eles?, afirma Leonilda Zatiki, de 58 anos.

Ela é mãe da Cleide Lopes, de 39 anos, que teve paralisia cerebral após complicações no parto. ?Ela tem uma manchinha preta no lado esquerdo do cérebro e desde pequeninha nunca caminhou, sentou ou engatinhou?, conta ela. ?Eu sou sozinha para criar ela, sou viúva e somos só nós duas em casa. Então eu quase não tenho palavras para falar da escola, que é tudo para ela e tudo e tudo para mim. Aqui eles cuidam e ajudam muito. O colégio é uma família para minha filha e para todos os alunos também?.

Ivete Bebre, de 24 anos, leva a filha Sofia, de 6 anos, para ser atendida no local desde os 4 meses de vida da criança. ?A Sofia nasceu com 28 semanas, era uma prematura extrema, e teve paralisia cerebral no parto. Ela sempre recebeu todos os atendimentos aqui e, o que não tinha, eles corriam atrás. Apesar de não estar em um local apropriado para as necessidades, a APAE sempre se preocupou para que as crianças fossem bem atendidas. Tenho gratidão por todos os profissionais?, diz.

?A escola é essencial para as crianças com deficiência. Neste ano tive que fazer a escolha se colocaria ela em uma escola regular do município ou na APAE. Ela é uma criança que usa fralda, tem dificuldade para caminhar e não fala. Eu optei pela APAE porque o cuidado que eles têm com ela é muito grande, e eu sei que vai ser o melhor para a vida dela?, conta Ivete. ?Agora com a escola nova, várias coisas que precisavam buscar fora vai ter ali. É um lugar próprio para eles, um espaço bom, bem melhor?.